23.10.17

Asilo

No esconderijo
balizei o meu nome
pelo rosto outro
destravadas as lágrimas coevas.
E depois
nas fráguas alindadas
depois do caminho tortuoso
desenhei as letras de ouro no chão basáltico,
húmido;
dei nome ao chão dantes órfão.

Alguém disse
que as histórias são camas do avesso
e vemos o tempo avulso
na rosa-dos-ventos por inventar.
Não saberia testar a hipótese.
A caixa de papel esvoaça sem sentido
leva-a a vontade do vento varonil
e as velhinhas amparadas uma na outra
arqueadas sobre o peso venal etário
congeminam a vingança sobre os silenciosos.

Perdi o rasto do esconderijo.

Sobra o fogo de artifício
a parcimónia ausente dos vaidosos
a perene inquietação do entardecer
a perplexidade da infância
equações sem desenredo
e um rosto suado
gasto
que se entreolha ao espelho
e vê devolvido
um rosto inesperado
– o rosto que havia seu
enquanto a infância fora império.

Afinal
era aí o esconderijo.

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