22.2.18

Califórnia

Neste ermo lugar
onde navios sem velas dançam
e as luas se enamoram da alvorada
procuro uma Califórnia amuralhada.
Persevero
entre o musgo larvar
as palavras mal ditas
e as pessoas que não são malditas
à espera de um chapéu amarelo
onde façam ninho ideias sem freio
onde medre a bondade sem juros.
Costumam
as areias límpidas ajudar a estilhaçar
os embaraços escondidos
entre as linhas amarrotadas
nas entrelinhas do possante muro
de onde se lamentam preces e fingimentos.
Não sei se a Califórnia chega
ou se preciso de um califado:
sei,
ao menos,
que não há insalubre fado
onde de estorno fermente uma sorte.
As velas agora hasteadas
chegam fogo ao navio,
que se move devagar:
talvez ao anoitecer
as luas se fundam numa só
e Califórnias não sejam demandadas
por ausente serventia:
no fio do luar
uma marca de água
a sublime tinta-da-china
escreve as estrofes que devolvem o sono.

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