4.9.06

Diz o que a tua alma

Diz o que a tua alma
sangra
chora
transpira
mas diz o que a tua alma.

Sentinela maestra
penhora dos alvores
onde nascem os vapores iluminantes.
Deixa-a falar
enquanto o sol desce
e perfuma o horizonte
com o vulto das andorinhas:
o singelo arquear das asas
que descerra o vulto negro da noite.

Nem assim
calará a tua alma
pedaço que jorra o tudo que és
– do bom e do mau
que a alma não cuida das distinções.
E se a noite teimar
se ela quiser ir onde não ousas
conserva cada grama da tua alma
para que ela possa falar.

Dizendo o que a alma
suspira
anseia
cativa
desespera
o refúgio mais alto da tirana razão.

Tu
e só tu
na companhia da alma que fala
nem que seja
para que só tu a ouças.
Não hão-de fantasmas acometer
quando tudo se resolve na leveza da alma;
livre das amarras pusilânimes
quantas vezes fruto putrefacto
da auto-mutilação dos sentidos.

(Em Limerick, Irlanda)