2.10.11

Gastronomia da frugalidade


Junta
o sal que incendeia os olhos
à poeira sobrante,
A poeira amarga dos dias mal terminados.
Por cima
despeja uma pitada dessa espuma que distrai.
E um pouco
do unguento corrosivo das maleitas díspares.
Não esquecer as lentes neófitas,
as lentes que te prometeras
quando irrompeu o cansaço dos infortúnios.
Aquece tudo em banho-maria.
E verás
que o anoitecer não é o bálsamo
de um dia que merecia o olvido.
Enfeita a iguaria.
Leva-a contigo
sem que um singelo dia
falte à chamada.

1.10.11

Uma genética


Por vezes
nuvens que se acastelam,
Ameaçadoras.
Outras vezes
cresce no horizonte o sol resplandecente
e os corpos são beijados
pelo sol quente.
Todos os dias são uma quimera.
Todos os dias são um desafio.
E os dias,
todos os dias,
assim ganham sentido.

O oráculo do pretérito


Penteias os sonhos aveludados.
Beijas os lábios carnudos
– como carnudos são os caules de carnívoras plantas –
e evocas as sentenças que deste
do alto da sobranceria estilosa.
Hoje
tens o vazio à tua volta.
E nem assim,
arrependimento larvar.