29.1.12

Fresco vespertino


A tarde caía.
A penumbra escondia as sombras das árvores despidas.
Os últimos murmúrios dos pássaros,
antes de se recolherem em seus ninhos.
O mendigo disfarçava o olhar no firmamento,
onde porventura tecia seus sonhos.
No labéu do horizonte
o céu tingido com as cores do ocaso
pressagiava noite demorada.
O mendigo teria ninho
como os pássaros sonhos?

27.1.12

Those furtive eyes

Looking beyond shaded mirrors
where hands melt within the sand
and furtive eyes stop digging for shelter. 

17.1.12

Red line


As veias fervem na sua combustão.
Em sobressaltos incolores.
A opacidade é a tela que arroteia a lucidez.
O corpo arremete pela escuridão.
Não pede apenas palavras.

10.1.12

Zen às três pancadas


Dizes: um murro no nariz.
Ficas à espera que sangre
o lívido sangue carmim,
avivada a cor da ira
                        acantonada.
Que te desenganes.
Como foi com as lágrimas,
secou-se a fonte das veias
na tangente do seu sopor.
Guarda os punhais afiados
para a sua serventia.
Em vez disso, abraça-me,
enreda-te nos meus braços.

9.1.12

Sinto em mim


A força de um vulcão no limiar da erupção.
As mãos que abraçam os sentidos emancipados.
A respiração, arfante, um módico de êxtase.
A carne já não lívida
um remoinho que se move na sua anárquica forma.
O céu embaciado e, todavia,
penhor dos segredos enfeitiçados.
E uma torrente indeclinável
no dever de ser eu
e esse devir que nunca se destapa
nem se encerra.

1.1.12

2012


Ano das trevas?
Não.
Um vasto campo de flores, fértil.
Olhos arrebatados pela sofreguidão de cada instante.
Afetos fundeados até nas improváveis partidas.
Palavras ditas com encantamento.
Uma simpatia exaustiva.
Mãos dadas em êxtase na fervura dos corpos.
Um imenso mar chão de onde olhares claros levitam.
O ano nascente é do tamanho do mundo.
Um amplexo congraçando o mundo inteiro.
Com sorrisos descomprometidos.
Isto e muito mais, 2012, ano inteiro.
Para devorarmos cada vestígio de oxigénio.
Por todos os dias.