29.4.14

Do olhar constante

Ah!
olhar presente
que derrotas a indiferença.
Olhar indolente
que congraças a beleza.
Olhar que não pode ser ausente
ou padecimentos estéreis troam,
pungentes.
Olhar quente
leito onde a carne se compraz.
Olhar,
olhar qualquer que seja,
sem que nunca seja ausente.
Pois de sua ausência
sobejam as ruínas do ser.
Tudo deve ser em seu contrário:
do olhar que se não refugia,
o mundo inteiro em sua fulguração.
Até que um olhar se verta no outro
                        e por ele reaprenda a ser.

14.4.14

O lago escondido

Um duende arcano despontou
na floresta densa.
Trazia três candeias acesas.
Uma,
no ombro direito,
apontava para a grande magnólia centrípeta.
Outra,
pendida sobre o esquerdo ombro,
refletia as lágrimas outrora vertidas.
Mas era a terceira que importava:
levou até ao grande lago matricial
onde as nuvens pousavam nos nenúfares,
as cotovias vestiam uma alvura singular,
os beijos marejados ecoavam
e toda a noite se fez claridade.
O duende foi efémero
mas deixou encravada no tempo por diante
uma rosa dos ventos vivaz.
Pois os tempos vividos seriam uma diferença
com a caução do mundo inteiro.
O duende
não deixaria de vigiar desde uma sombra,
ocultando-se em sua penumbra,
empossado figura tutelar.