1.1.12

2012


Ano das trevas?
Não.
Um vasto campo de flores, fértil.
Olhos arrebatados pela sofreguidão de cada instante.
Afetos fundeados até nas improváveis partidas.
Palavras ditas com encantamento.
Uma simpatia exaustiva.
Mãos dadas em êxtase na fervura dos corpos.
Um imenso mar chão de onde olhares claros levitam.
O ano nascente é do tamanho do mundo.
Um amplexo congraçando o mundo inteiro.
Com sorrisos descomprometidos.
Isto e muito mais, 2012, ano inteiro.
Para devorarmos cada vestígio de oxigénio.
Por todos os dias.

26.12.11

Saudade


And yet
I miss the future.
Days ahead are dreams boiling in thick clouds.
Stormy winds shatter dark clothes from ancient widows.
Promising windows
they cast vivid days to come.
Miss them.
In advance.

11.12.11

O almirante das hesitações


Pressente-se a corda que afogueia a lucidez.
A corda bem apertada torcendo a jugular.
Por dentro do labirinto entretece-se o precipício
onde o corpo se deita.
O precipício de onde sopram ventos aziagos
avisa:
o corpo entrega-se a suicidária pulsão.
O transacto é toda uma lição.
Ao que consta,
desaprendida.

10.12.11

Às voltas trocadas


No jogo dos impossíveis
as cartas baralhadas.
Mãos trémulas
congeminam as suas dores.
Olhos embotados
já sem coragem para se olharem.
E, no jogo dos impossíveis,
só negras nuvens tecem
impossibilidades.

5.12.11

Pretérito (mais que) imperfeito


O que fui
mesmo em sendo um pequeno nada:
uma vitualha inofensiva, apenas.
O que fui
não é oráculo do que sou.
Das sombras pretéritas,
os ossos empoeirados depõem-se
no seu silêncio.

Hoje sou cais.
Um altar e os braços abertos
num amplexo de dádiva.
Os olhos encantam-se
pelo cais sublime onde aportam.
Esses olhos
não metem as mãos na poeira quieta.