21.5.12

Matar ou morrer?


Toca e foge.
Enquanto é tempo. Enquanto há tempo.
Espalha a confusão.
E quando já só sobrarem
as ruínas de tudo que fora um algo,
estarás vigilante nas fendas do tempo.
Recolhendo,
com cínico sorriso,
os destroços.
Pois por aqui, é matar ou morrer.

17.5.12

Um esboço


Os olhos também se cegam.
Mesmo quando os mantemos acesos.
Arrependimentos são matéria postiça,
como se os dias por diante se alojassem
no ninho das memórias.
Sobra uma espécie de anestesia.
A existência corre em corredores paralelos.
A que conta,
escondida numa penumbra qualquer.

25.4.12

O céu não é o limite


O céu não é o limite.
E o que é um limite?
Se só atavismos ousam esboçar fronteiras.
Os que apoucam a (dizem)
demência dos ilimites
são os mesmos que se cercam de muralhas.
Dessas muralhas verte-se
horizonte sitiado na finitude.
Afinal
as fronteiras fermenta-as o pensamento.
Fora dele
e por dentro do irrefreável pensamento sem peias,
não há céu porque não há limites
(ou não há limites
porque as mãos não se banham no céu,
para o caso tanto faz).

3.4.12

A sangue frio


Descarnado.
Dos excessos que transbordam
no enfurecido cortejo de dias improváveis.
Os sedimentos de tudo,
em sonhos que se desfazem em nada,
vertidos num regaço adocicado.

29.3.12

Roteiro


As cicatrizes sobem no firmamento.
São evocações do futuro
um trovão fulminante, mapa dos devaneios.
O passado foi uma anestesia demorada.
Os dias que importam
têm seu começo no dia que se implora.
Os sobressaltos
nem às lembranças pertencem.

17.3.12

O cais dos murmúrios


Sigur Rós, “It's all allright”

A penumbra convoca murmúrios
no cais sombrio.
Enlaçam-se na paragem do tempo,
o ocaso das tempestades a tecer-se no promontório.
Já só sobra o ouro dos ouvidos
saciados pelos murmúrios.