4.1.25

Injustiças indocumentadas (484)

Entrem num restaurante 

e experimentem 

se há almoços grátis.

#3372

Tiramos à pele 

o corsário

nós 

os tão civilizados, 

selvagens sem a cor de o ser.

3.1.25

Injustiças indocumentadas (483)

A exuberância da época

ou a embriaguez dos convidados 

para o festim do consumo:

todos aos saldos

todos aos saltos.

#3371

Que prosa me contas, 

ó avesso da alma, 

nestas vascas da vida?

2.1.25

Em meu nome

Em meu nome

as bandeiras derruídas

os archotes contra o solipsismo

a matéria etérea nas costuras do dia

os dados que nos são dados

enquanto os dedos adivinham a manhã. 

 

Em meu nome

constelações por inventariar

a pele junto ao peito

o forasteiro dividido 

entre a pertença e a ausência

um proeminente cabo que investe contra o mar

a maresia agitada contra as bocas druidas

uma armadura à prova de mundo

o cais generoso. 

 

Em meu nome

o paradeiro dos escrivães dos tempos omissos

a letargia fundente

o degelo armistício

o esquecimento pródigo.

#3370

De parte alguma, 

a voz certeira

o olhar síndico.

1.1.25

Injustiças indocumentadas (481)

Muito se fala 

da última instância 

sem se saber do paradeiro 

da instância primeira.

Injustiças indocumentadas (480)

Self-mad man.

#3369

Ainda esperneiam

as borras do ano ido 

e uma promessa de ano 

debate-se 

no frágil espaçamento do tempo.

31.12.24

Injustiças indocumentadas (479)

De uma torta cepa 

faz-se bom vinho.

#3368

Coincido comigo

no deserto fundeado 

no tempo sem paradeiro.

#3367

No país da cunha 

o falatório não é de mais 

em tendo linhagem certa 

os nomes convocados.

30.12.24

#3366

Que arrelia 

o galho pendido 

a ferir a fala,

fendida.

29.12.24

#3365

Oxalá 

as carnificinas fossem todas 

o efeito de poemas terçados 

pelas bocas assintomáticas 

de poetas e recitadores. 

28.12.24

#3364

Contrassenha

no avesso do bilhete de comboio 

antes que a desmemória 

trate do abismo do tempo.

27.12.24

Brasão

O passado do passado 

que passa 

passado 

a passar no pesado lacre 

da genealogia.

#3363

Na pira 

crepitam as palavras acesas 

o rumorejo prolongado da dinastia.

26.12.24

Companhia, limitada

Um agasalho

a favor da combustão

esconjura a raiz dos medos

a fina fazenda

que faz a faina dos justos.

 

O olhar desimpedido

a maresia por diante

a beijar 

a pele seca pelo estio dos sentidos

combina um encontro

com o luar sucessivo.

 

Os olhos que não se gastam

aprendem com os lugares vivos

a mortalha que se abate

límpida

sobre os tentáculos do conhecimento.

#3362

Dessa fala telúrica 

abóbada de dicionários metódicos 

penhoras as palavras sortílegas.

25.12.24

#3361

Dei o freio ao vento 

uma escotilha sobre a cidade 

vestido de atalaia.

24.12.24

#3360

Arrasto os rostos macilentos.

O sol que ateie um fogacho de cor

à medida que estilhaçamos 

as dores espúrias. 

23.12.24

Anti-heróis

Já não há heróis

o sangue está caro

e a esperança de vida

upa, upa

custeou a inflação da vida.

Injustiças indocumentadas (478)

Agenda para o novo ano

 

(AC: gente que tutela o mantra do progressismo):

 

extinguir o pai Natal

substituí-lo pela mãe Natal.

Injustiças indocumentadas (477)

O desmancha-prazeres 

ou é frígido 

ou está a soldo da igreja.

#3359

O relógio 

precisa de corda 

mas nem assim 

o tempo adia.

22.12.24

#3358

O mel 

contra o cisma 

a boca amordaçada

ou a liberdade.

21.12.24

#3357

Contra toda esta poluição social 

um rimmel pegajoso 

a prender as pestanas 

ao olhar impedido.

20.12.24

Manifesto contra a humildade (e a vaidade)

Um pequeno rebento

medra no coalho da humidade noturna

ensina

fragilidade converte-se em viço

ou como

a água rompe entre a rocha

e as nuvens podem mais 

do que o sol omnipotente.

 

Um pequeno passo inteiro

um de cada vez

ainda que seja preciso

à vez

dois passos recuar

é o património das conquistas 

em nossos braços depostas.

O segredo

é ter audácia para exonerar os embaraços

tal como

não escondemos o rosto

das proezas sindicadas.

Injustiças indocumentadas (476)

Os porcos 

não querem 

pérolas

(deixem-nos

em paz).

#3356

No palco do adeus 

tiramos fotografias

que dispensam molduras.