Os lírios dizem-me tudo.
Evocações escritas a giz
numa ardósia.
Lá fora
a neve semeia-se
esbranquiçando o solo.
Lembro-me:
do negro da ardósia
e do alvo manto de neve.
A ambivalência dos opostos.
Pelo meio
o amarelo dos lírios
estende uma mão
entre os desavindos contrastes.
Que se purificam
através do amarelo dos refrescantes lírios.
A ardósia serve de tábua
onde vertidas são as memórias
da gélida neve repousada ao acaso.
A mesma neve que refugiou os lírios
na invernal hibernação.
31.12.05
17.12.05
Ilusões de óptica
Como se acordasse,
agitado,
na interrupção de um pesadelo.
Temia o túnel exíguo e escuro
por onde só conseguia rastejar
num sufoco claustrofóbico
a parte nenhuma vai dar.
Ver
que na desembocadura do túnel
lá na porta que o cerra
não está uma enxurrada de água
que me empurra na torrente.
Cabeça mergulhada na água borbulhante
pulmões a sorverem água
que tira a respiração.
Ver
que é um pesadelo,
apenas.
Já consigo ver,
como se fosse o periscópio que rompe a água
e traz a ofegante respiração de volta,
só um pesadelo.
Agora vejo o céu azul, ´
que nunca pareceu tão azul,
tão brilhante.
Vejo
os pássaros que voam
na onda da brisa marinha.
Vejo
um par de namorados,
na solidão refugiada do farol,
que se beija longamente.
Vejo
o areal dourado
que recebe os lampejos do sol.
E vejo
Tudo o que os olhos captam
na convocação dos sentidos.
Vejo
excitações perenes que trazem sentido
à vida.
Vejo
com os olhos
sinal que a vista testemunha
uma vida bem presente.
Não me canso de ver,
tudo a toda à volta,
curioso de mim mesmo,
fosse viandante num cosmos
preso nas minhas mãos.
E, enfim,
vejo.
Ou quero apenas
ver aquilo que vejo.
agitado,
na interrupção de um pesadelo.
Temia o túnel exíguo e escuro
por onde só conseguia rastejar
num sufoco claustrofóbico
a parte nenhuma vai dar.
Ver
que na desembocadura do túnel
lá na porta que o cerra
não está uma enxurrada de água
que me empurra na torrente.
Cabeça mergulhada na água borbulhante
pulmões a sorverem água
que tira a respiração.
Ver
que é um pesadelo,
apenas.
Já consigo ver,
como se fosse o periscópio que rompe a água
e traz a ofegante respiração de volta,
só um pesadelo.
Agora vejo o céu azul, ´
que nunca pareceu tão azul,
tão brilhante.
Vejo
os pássaros que voam
na onda da brisa marinha.
Vejo
um par de namorados,
na solidão refugiada do farol,
que se beija longamente.
Vejo
o areal dourado
que recebe os lampejos do sol.
E vejo
Tudo o que os olhos captam
na convocação dos sentidos.
Vejo
excitações perenes que trazem sentido
à vida.
Vejo
com os olhos
sinal que a vista testemunha
uma vida bem presente.
Não me canso de ver,
tudo a toda à volta,
curioso de mim mesmo,
fosse viandante num cosmos
preso nas minhas mãos.
E, enfim,
vejo.
Ou quero apenas
ver aquilo que vejo.
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