24.10.12

Enquantos e pesares


Enquanto as nuvens se debatem
e as sombras se levantam.
Enquanto os corvos siam
e as folhas capitulam.
Enquanto as luzes persistem
e as alvoradas se não sitiam.
Enquanto tudo não for madraço
e as vozes protestarem sem embuço.
Enquanto os enquantos houver por contar
e um rosário de oxalás se não intimidar.
Enquanto tudo e mais o resto
saibamos roer a corda da resignação
morder as canelas do ímpios que nos adoecem.
Saibamos povoar a voz que se não atemoriza
saibamos ser o que o ser mandar ser.
Com todos os enquantos e pesares
os poréns e não obstantes
mas sempre na indomável recusa da rendição.

1.10.12

Tornados


Pudessem dos elementos sobrar apenas ruínas;
pudessem vontades irrefreáveis ceifar a lucidez;
pudessem ventos furiosos tudo açambarcar;
pudessem dedos mortiços tudo arrematar.
Contra a vontade indomável
não há tornado que tenha valimento.
Das veias cresce outro tornado
um vulcão vomitando sua lava
a vontade maior
– a mais irrefreável.
E não:
as peias só o são quando deixamos que sejam.