21.11.12

Antinomias


Lágrimas, a mortalha de um tempo já inútil.
Espelhos, o oráculo de um tempo ainda útil.

O contraponto que se exaure na finitude.

Às sombras, um arpão definitivo.
Às luzes, a constelação de um sinal.

24.10.12

Enquantos e pesares


Enquanto as nuvens se debatem
e as sombras se levantam.
Enquanto os corvos siam
e as folhas capitulam.
Enquanto as luzes persistem
e as alvoradas se não sitiam.
Enquanto tudo não for madraço
e as vozes protestarem sem embuço.
Enquanto os enquantos houver por contar
e um rosário de oxalás se não intimidar.
Enquanto tudo e mais o resto
saibamos roer a corda da resignação
morder as canelas do ímpios que nos adoecem.
Saibamos povoar a voz que se não atemoriza
saibamos ser o que o ser mandar ser.
Com todos os enquantos e pesares
os poréns e não obstantes
mas sempre na indomável recusa da rendição.

1.10.12

Tornados


Pudessem dos elementos sobrar apenas ruínas;
pudessem vontades irrefreáveis ceifar a lucidez;
pudessem ventos furiosos tudo açambarcar;
pudessem dedos mortiços tudo arrematar.
Contra a vontade indomável
não há tornado que tenha valimento.
Das veias cresce outro tornado
um vulcão vomitando sua lava
a vontade maior
– a mais irrefreável.
E não:
as peias só o são quando deixamos que sejam.

20.9.12

A whisper


And then one day
as slippery as it comes digging through the veins
an anchor lies ahead.
The aftermath is the whole world within our hands.
Freedom never sounded so clear.

4.9.12

Obséquio


Às esperas que pareciam demorar o tempo.
Às inquietações domadas:
deixaram de passar os comboios troando na madrugada.
Agora
em todos os apeadeiros
sobra uma luz vivaz.