2.7.25

#4137

De bruços 

afocinhando na pútrida fealdade do mundo 

antes que seja a vez do Verão 

coser os corpos em banho-inferno.

1.7.25

Injustiças documentadas (555)

A mão de semear 

era a mais fértil 

das mãos.

Injustiças documentadas (554)

Uns procuram 

a evasão fiscal 

outros protegem-se 

da invasão fiscal. 

#4136

O amuleto 

segreda a estrofe 

que tem a custódia da quimera.

30.6.25

Deste elixir contratual

Arregaçada

a pele conjuntural

atira-se ao fogo 

com uma vontade aquosa

de quem tem muitos rios a dormir

no leito.

 

Os rostos queriam ser perenes

arqueados sobre as pernas infatigáveis;

sobra um lago por fazer

as fronteiras imarcescíveis 

bordando as costuras dos seres,

à prova de guerras civis.

 

Na véspera da noite inaugural

as falas sublevam-se

contra a validade dos corpos.

Injustiças documentadas (553)

Cepa torta, cepa torta 

vai bater àquela horta.

#4135

O ricochete

sela a fama 

da vingança.

29.6.25

Injustiças documentadas (552)

Está, 

dizem, 

pela hora da morte

mas eu não sei 

qual é o fuso horário.

#4134

Usa a escotilha 

para guardar os segredos.

28.6.25

#4133

O esquecimento

passeia pelo deserto 

onde tudo fica 

refém de trevas.

27.6.25

Injustiças documentadas (551)

Não há missas grátis.

Não há misses grátis.

#4132

Não é o “rés-do-chão do pensamento”, 

é o subsolo do pensamento.

 

[Doença contemporânea]

26.6.25

O sangue do vulcão

O sangue do vulcão 

esperneia 

às costas do medo.

 

As feridas

são o penso da loucura

sobre elas pesam 

as fundações do passado.

 

No viés da maré

contam-se as palavras turvas

o imenso lamento por esgotar.

 

E o vulcão em sangue

desce 

antes que o tempo tenha paridade

sua é a sede do mar furtivo.

 

A pele suada foge da noite

na peugada dos sonhos de autor.

 

Não se espere muito dos dados

à conta de sortilégios

a boca emudece

no provérbio venal.

 

Falam

as pessoas que saíram à rua

falam como se houvesse

quem as quisesse mudas:

não se sabe o que dizem

mas também não importa.

 

O sangue do vulcão

cicatriza sob os auspícios

do mar

agora sobram as tatuagens

para memória futura.

#4131

Mudar a vírgula

antes que seja vergonha 

antes que seja mudar de vírgula.

25.6.25

Injustiças documentadas (550)

As forças vivas da cidade 

eram aquelas 

que não tinham o cemitério 

como residência. 

#4130

A jarra-legado 

e as flores que esperam 

a lenta decadência.

24.6.25

Injustiças documentadas (549)

Tempestade 

é a majestade 

do tempo.

#4129

A mão do escrivão destoa, 

amarelece quando esbarra 

nas palavras sintomáticas.

23.6.25

Efeitos retroativos

É quando apetece

recuar à meninice

só para sentir

por fingido que fosse

que o mundo 

lá fora

se cinge 

às imediações

de mim mesmo.

#4128

O fado que destoa 

um pano negro que se hasteia 

o lamento murmurado.

22.6.25

#4127

Este 

é o licor das palavras 

que se embebem 

na estética da alma.

21.6.25

#4126

Os ossos coçados 

encostam-se num parapeito 

e protestam: 

tardia vai a vida para mudar.

20.6.25

Hospitalidade

Por cada lampejo de vaidade 

a inflação dos seres acompanhava 

os estouvados.

 

As mãos escorregavam no abismo

e as sílabas voavam mais depressa 

que a fala.

 

Antes que fosse noite

folheava as páginas da véspera

à procura de perguntas.

 

Por muito que suspeitasse

a reparação da pele

antecipava-se à mentira.

 

Este era um lugar hospitaleiro

um feixe de portas abertas

à prova de espantalhos.

 

Se as almas tivessem asas

eram de toda a parte

ao acaso.

#4125

As bandeiras agitadas 

sabem ao sangue corrompido 

dos modernos atávicos.

19.6.25

Injustiças documentadas (548)

Também existe uma ética 

para a roupa anterior.

#4124

As palavras desatadas 

são como vulcões noturnos 

nas bocas agitadas que matam 

o silêncio.

18.6.25

Escombros

Por vezes 

os escombros 

são como vinhos 

de colheita tardia.

Injustiças documentadas (547)

Até tirava o chapéu, 

fosse dar-se o caso 

de envergar o mesmo.

Injustiças documentadas (546)

Está tudo pela hora da morte.

E qual é a hora 

a que a morte se faz anunciar?

#4123

Suam 

as palavras apertadas 

pelo estio impiedoso

como se gotas fossem

as sílabas que as compõem.