Deixei-me posar ao lado de uma interjeição.
O quadro parecia bucólico
os dentes cariados bem escondidos
pelos lábios em forma de perfeição
lábios daqueles
que ateiam pensamentos carnais
enquanto a voz de comando
ordenava ao luar que mantivesse
a compostura.
Um poema não dá de comer a ninguém,
advertia o ministro com a pasta toda
e o séquito,
os conselheiros mais os rapazes do partido
e aqueles patuscos
que se emprestam como pano de fundo
quando sua excelência perora para as tevês
– a seita de aspirantes
acenava obedientemente
concordando
– pois então.
Uma serpente espreitava
entre os pedregulhos sobranceiros
ao lago no jardim grande
salivando o veneno
que só os déspotas entendem.
Não bati em retirada;
aliás
não bati em nada
sou um pacifista emérito
e nunca
– juro que nunca,
sem correr o risco de ser apanhado
na curva sinuosa da mentira –
tirei de esforço com vivalma
viva ou morta.
Nestes preparos
vou ali às escondidas fumar um cigarro
eu,
que não sou fumador,
só para contrariar o edil de Milão
que se lembrou de proibir o tabaco ao ar livre
aprisionando-o
na extensão do fascismo higiénico
que coloniza e coloniza e coloniza.