15.12.04

Torrente imparável

Espreitas.
Olhas para as cores do mundo
com a curiosidade de quem desbrava caminho.
Estendes a mão.
Um dedo bem apertado,
é manancial de ternura doutra dimensão.
De ti a vida jorra sem cessar.
Um repasto arrebatador
que tenho entre mãos.
Não sei o que sentes:
nesse frémito de aprender a ser,
nesse bolear eterno
que traga as cores, os sons, as sensações
- a imagem de que não sabendo
sinto que pulso contigo.
Batidas compassadas,
articuladas,
dois corações em uníssono.
De em ti em mim,
de mim para ti,
num refluxo sem cessar:
até que sejas tu mesma.
Missão inolvidável:
Fermentar uma vida
sem saber que ela seria
a semente da reinvenção da vida do inspirador.

10.11.04

Devir

Enternecido.
Contemplar a alvura da pele,
os olhos semi-cerrados que vagueiam
em sonhos perdidos.
Encontrado.
Com o meu destino,
uma vida preenchida
num olhar alheio.
Finalmente.
Um rumo que não se perde
na bruma das erráticas veredas.

Ao acordar,
o olhar que persegue as sombras
escondidas na luz feérica.
Um esgar de espanto
numa vida que aprendes.
Olhar para quem te criou
e beber com os olhos o enternecimento supremo.
Reconfortada.

Parar o tempo.
Nos instantes em que paro diante de ti,
admirado com os mistérios de que és essência.
Também aprendo a viver.
Reaprendo,
com a tua inocência,
com a serenidade que exalas
nas pétalas perfumadas que os teus dedos
aspergem.