28.1.15

Not the paradise

Throw the vows into the carpet
where lions wait for digestion.
Throw the cards into the blanket
where sweat was the emperor of bodies.

Shallow the thin shades
where dark cards outplay.
Glimpse them with your glare
where memories vanish.

And yet, paradise is infrequent
(is) where dreams fade away.
Paradise is not lost
(is) where absence dismays.

Promised, archaic lands emerge
where furnaces incinerate tears.
Neglect what eyes must not envisage
(of) where branded dreams boil in pain.

Turn away from the tainted words
(there) where hands become prisoners
and ruined houses levitate within the clouds.

An empty boat is left in the lake
(is) where legs shove the movement
and a nutshell of you, real thing, grows legacy.

27.1.15

Um minuto

Se dessem um minuto,
um minuto apenas,
o que diria?
Num minuto,
que palavras ecoariam os mosaicos por dentro?
Seriam doces
ou apanágio do pânico
(pois só haveria um minuto)
ou um vale sedoso de uma vida cheia?
Haveria sequer palavras,
sem a serventia delas se num tão curto minuto
não seriam serventuárias de resumo algum,
nem prodigiosas ao ponto de terem merecimento?
Num minuto
não se erguem interrogações.
(A não ser porquê um minuto apenas
e se estaria a um minuto do juízo final)
Não haveria traições semânticas
nem trôpegas encenações quiméricas.
Num minuto,
num singelo minuto,
não se encerra nada.
Um minuto é um cárcere.
Ser dele algoz
é a pena pior que um juiz pode decretar.
Num minuto diria nada.
E com tão ruidoso silêncio
diria tudo o que importa.

20.1.15

Questionário

Diz-me tu.
Diz-me as cores que compõem o dia.
Os odores que tomam conta da paisagem.
Quantas pessoas nos vêm.
Quantas estão lá fora ao frio.
Diz-me quantas gotas traz a chuva
quantas sabem ao vinho que fizemos.
Diz-me o que souberes ser de tecer loas.
As páginas de um livro
o dedilhar de uma guitarra
o enredo de uma peça de teatro
ou apenas o entrelaçar das mãos
o olhar que se emaranha noutro
os desejos que quisermos
as alvoradas que tomamos nas mãos
a neve que esvoaça na leveza da noite
os caminhos que descobrimos
os segredos que deitamos sobre nós.
Diz-me tudo o que te apetecer.
Eu te direi o que o amplexo de nós levar à boca.
As palavras doces
a pele acetinada
os olhos (nem que sejam marejados)
as facas que desbastam memórias gastas.
Tecendo os dedos entre cabelos molhados
não ajuramentando o que não precisa de juras
nem correndo das paredes quentes que são refúgio.
Diz-me tu,
que direi o que de mim achares belo.

Promessa

De que vale amofinar,
de que vale se o sol vem depois da noite
os pássaros não deixam de voar
os diplomatas não deixam de urdir
os artistas mal paridos não deixam de ultrajar a arte
e se as promessas não deixam de ser
contrato descumprido para memória futura?
Antes não desembolsar promessas
antes que sejam vertidas num vão altar.
Antes o sol nascente na sua lhaneza
os pássaros em bando compondo a paisagem
os diplomatas na arte da simulação
os mal paridos artistas a dececionarem a estética.
Antes não haja nascimento para as promessas.
Não venha o ajuste de contas da memória
e as cefaleias pontuem nas sobras das promessas álgidas.
Prometa-se que não haja promessas doravante.
E as que a distração escapar deixe
se faça desnascê-las.