À lua tudo se pergunta.
As vontades
as exasperações
os volteios da alma
o porquê das pedras pontiagudas
o admirável renascer dos elementos
as vozes que troam
os sussurros doces
o marasmo inquietante
o lívido estado do mundo
ou o seu encanto em manhãs brumosas.
A lua a tudo responde
não esconde o rosto
nem quando se emudece atrás do mundo.
Ensina a paciência.
A sua luz intensamente branca
expede as respostas que cavalgam no
olhar.
Um olhar sabedor
que decanta a lua levedada do dia prévio
e retira a penumbra do seu estertor.
Não gritem os sobressaltos
não fervam as amarguras
nem se encastelem as importunações;
que a lua faz de teia
e com saliva a nada reduz esses nadas.
Devemos à lua
a maresia que adeja
e cimenta a pele árdua que se desembacia.
Numa simbiose de que não se dá conta
a não ser
quando nos achamos lua de nós mesmos
e da lua tiramos a alforria do ser.
O resto
(os escombros infecundos
as cinzas álgidas
os punhais insidiosos)
deixamos à sombra aninhada no reverso da
lua.
Com as mãos cheias de vontade
- da indomável vontade -
e um rosto que não capitula às sombras
medonhas
e um sorriso que desmonta as emboscadas,
somos a face lunar
e a luz que derrota as trevas.
A lua sela o amanhecer devagar.
Ajuramenta um tempo sem mácula.
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