17.3.12

O cais dos murmúrios


Sigur Rós, “It's all allright”

A penumbra convoca murmúrios
no cais sombrio.
Enlaçam-se na paragem do tempo,
o ocaso das tempestades a tecer-se no promontório.
Já só sobra o ouro dos ouvidos
saciados pelos murmúrios.

5.3.12

Os despojos da solidão


Os segundos amotinados
dançam no fuso dos sentidos.
Da tempestade, tão perfeita,
cinzas da fogueira deposta.
O chão, já devolvido ao frio,
testemunha dos despojos.
As escadas deixaram de ser
emudecido lugarejo
onde os dedos se entrelaçam
na finitude do momento.

4.3.12

Dispossessed hands


You’ve dreams within reach
where candles throw out sparkles.
Hands touch the riddles of evanescence.
And yet
interlaced eyes look at fuzzy clouds,
digging for dreams
as they wave promises.
Within reach,
as dreams ought to be? 

12.2.12

The end of ages


Tides seem voices whispering in the dawn,
they feast their riddles over bouncing eyes.
All over they look at,
eyes meet mysteries growing old.
Turning upside down
melting icy fingers into a bequest of colours,
as tides wash down empty sands. 

10.2.12

Em manutenção


Um grão de areia desprende-se
enquanto o sol esbatido
apruma o horizonte.
As cores garridas do ocaso
esboçam um renascer.
As luzes da noite,
derrotado o crepúsculo,
enfeitam o sortilégio de um momento.
Depois
os corpos destravam-se.

29.1.12

Fresco vespertino


A tarde caía.
A penumbra escondia as sombras das árvores despidas.
Os últimos murmúrios dos pássaros,
antes de se recolherem em seus ninhos.
O mendigo disfarçava o olhar no firmamento,
onde porventura tecia seus sonhos.
No labéu do horizonte
o céu tingido com as cores do ocaso
pressagiava noite demorada.
O mendigo teria ninho
como os pássaros sonhos?

27.1.12

Those furtive eyes

Looking beyond shaded mirrors
where hands melt within the sand
and furtive eyes stop digging for shelter.