E se fosse o gato
a ser atirado ao pau
o que diria o PAN?
Refúgio nas palavras. A melodia perdida. Libertação. Paulo Vila Maior
O terrível nariz de mostarda
espera pela suite prometida
pois
aos odores não se atraiçoa o delido.
O palco não se desfaz nas paredes caiadas
se ao alpendre subirem as divindades perdidas:
pratique-se à besta casmurra
o mesmo destrato que aos tiranetes:
colheres de mostarda de Dijon a esmo
até as veias do cérebro se esgotarem
nos filões ávidos de ideias
lisérgicas.
Os idiomas falavam à vez.
As bocas procuravam nomes
como quem encontra uma morada.
O dia era o espelho das traduções.
Nada ficava por entender
não por falta de correspondência
entre os idiomas.
Alguém supôs um idioma universal
mas todos recusaram a intenção.
A língua franca
condenava os idiomas à insignificância.
Todos
(menos os eruditos do idioma franco)
baniam as intenções
que baniam a biodiversidade das línguas.
Os idiomas falavam à vez.
Mas falavam todos
uns com os outros.
Não sejas modesto
na poupança de metáforas:
o carrossel de palavras é o passaporte
para um idioma sem cansaço,
a avassaladora marca registada
que o cofre reserva
à tua guarda.
Sete são as chaves
que aferrolham os tesouros;
seis não satisfazem a função
e oito serão de mais.
A matilha
não obediente
suprime as normativas:
são os seus próprios anarquistas
e vítimas prediletas.
A carne não sangra;
canta
com os dentes entumecidos
e a gola da alma de atalaia.
O corpo que vocifera
rima com o idioma rouco
e é como se todos,
em uníssono,
pudéssemos morrer à nossa vontade.
[Idles, Vodafone Paredes de Coura, 17-18 de agosto de 2022]
Com a vossa licença,
que a manhã se faz tarde
e os provérbios estão à míngua:
deito o olhar ao rio
a ver se me devolve o sangue.
Se fossemos salteadores
e sonhássemos com montanhas
em vez de bandeiras
faríamos de poemas avulsos
o hino com mastro a propósito.
O que faço
deste dolo
provérbio gasto
ou apenas
intenção cimentada no mural
cisão entre o eu e o acaso?
O que faço
com este dolo
matéria sem linhagem
costuras acima da medida
a manga gasta no pelourinho
sem sentenças por perto
sem regras a servirem de gramática?
O que faço
metido
neste dolo?
A fava
deve ter as costas largas
ou é o embaixador vegetal
do patinho feio.
Se estes marços não acabam pela tarde
protesto a delação dos espíritos amordaçados
contra a especiosa safra dos clarividentes.
Ondas musculadas não amedrontam as rochas
nem sob ameaça pendida sobre a jugular
pois o material previdente assenta em carvão.
Atirem os detonadores ao Outono circunstancial
e depois adormeçam numa cama versátil
que das miragens habituais já não há paradeiro.