6.1.25

Denúncia do fascismo higiénico e de outras modernidades compulsórias (e compulsivas)

Deixei-me posar ao lado de uma interjeição.

O quadro parecia bucólico

os dentes cariados bem escondidos

pelos lábios em forma de perfeição

lábios daqueles

que ateiam pensamentos carnais

enquanto a voz de comando 

ordenava ao luar que mantivesse 

a compostura.

Um poema não dá de comer a ninguém,

advertia o ministro com a pasta toda

e o séquito,

os conselheiros mais os rapazes do partido

e aqueles patuscos 

que se emprestam como pano de fundo

quando sua excelência perora para as tevês 

– a seita de aspirantes

acenava obedientemente

concordando

– pois então.

Uma serpente espreitava 

entre os pedregulhos sobranceiros 

ao lago no jardim grande

salivando o veneno 

que só os déspotas entendem.

Não bati em retirada;

aliás

não bati em nada

sou um pacifista emérito

e nunca 

– juro que nunca, 

sem correr o risco de ser apanhado 

na curva sinuosa da mentira – 

tirei de esforço com vivalma 

viva ou morta.

Nestes preparos

vou ali às escondidas fumar um cigarro

eu,

que não sou fumador,

só para contrariar o edil de Milão

que se lembrou de proibir o tabaco ao ar livre

aprisionando-o

na extensão do fascismo higiénico

que coloniza e coloniza e coloniza.

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