3.7.25

#4138

Feito num oito 

o padrinho das mentiras 

sempre a pisar o pântano perene.

2.7.25

Prova testemunhal

Ninguém diga

ser perito 

em fugir das emboscadas

averbadas em páginas puídas

como se só houvesse contingência

da nuca para trás. 

Do incubar que levita conspirações

não retenho doenças que subam às bandeiras

não convoco os demónios; 

deixo-os à míngua

eviscerados na sua própria

amputação

e assim soberano

dito os termos dos erros voluntários

evaporo os arrependimentos larvares

mal esboçam um movimento na sua aurora. 

 

Este é o alvará dos frágeis

a imensa penumbra que embacia as palavras

os temerários discípulos das coisas nadas

que açambarcam a luz tépida das manhãs 

que prolongam o estio. 

Eis a poderosa saída para um segredo hipotecado

as águas doces sem serem sobremesa

os patifes que ninguém respeita

oráculos de um medo dissolvido

os párias

os autênticos párias

que não respondem a hinos e bandeiras

e são o paradeiro 

da sua própria história. 

#4137

De bruços 

afocinhando na pútrida fealdade do mundo 

antes que seja a vez do Verão 

coser os corpos em banho-inferno.

1.7.25

Injustiças documentadas (555)

A mão de semear 

era a mais fértil 

das mãos.

Injustiças documentadas (554)

Uns procuram 

a evasão fiscal 

outros protegem-se 

da invasão fiscal. 

#4136

O amuleto 

segreda a estrofe 

que tem a custódia da quimera.

30.6.25

Deste elixir contratual

Arregaçada

a pele conjuntural

atira-se ao fogo 

com uma vontade aquosa

de quem tem muitos rios a dormir

no leito.

 

Os rostos queriam ser perenes

arqueados sobre as pernas infatigáveis;

sobra um lago por fazer

as fronteiras imarcescíveis 

bordando as costuras dos seres,

à prova de guerras civis.

 

Na véspera da noite inaugural

as falas sublevam-se

contra a validade dos corpos.

Injustiças documentadas (553)

Cepa torta, cepa torta 

vai bater àquela horta.

#4135

O ricochete

sela a fama 

da vingança.

29.6.25

Injustiças documentadas (552)

Está, 

dizem, 

pela hora da morte

mas eu não sei 

qual é o fuso horário.

#4134

Usa a escotilha 

para guardar os segredos.

28.6.25

#4133

O esquecimento

passeia pelo deserto 

onde tudo fica 

refém de trevas.

27.6.25

Injustiças documentadas (551)

Não há missas grátis.

Não há misses grátis.

#4132

Não é o “rés-do-chão do pensamento”, 

é o subsolo do pensamento.

 

[Doença contemporânea]

26.6.25

O sangue do vulcão

O sangue do vulcão 

esperneia 

às costas do medo.

 

As feridas

são o penso da loucura

sobre elas pesam 

as fundações do passado.

 

No viés da maré

contam-se as palavras turvas

o imenso lamento por esgotar.

 

E o vulcão em sangue

desce 

antes que o tempo tenha paridade

sua é a sede do mar furtivo.

 

A pele suada foge da noite

na peugada dos sonhos de autor.

 

Não se espere muito dos dados

à conta de sortilégios

a boca emudece

no provérbio venal.

 

Falam

as pessoas que saíram à rua

falam como se houvesse

quem as quisesse mudas:

não se sabe o que dizem

mas também não importa.

 

O sangue do vulcão

cicatriza sob os auspícios

do mar

agora sobram as tatuagens

para memória futura.

#4131

Mudar a vírgula

antes que seja vergonha 

antes que seja mudar de vírgula.

25.6.25

Injustiças documentadas (550)

As forças vivas da cidade 

eram aquelas 

que não tinham o cemitério 

como residência. 

#4130

A jarra-legado 

e as flores que esperam 

a lenta decadência.

24.6.25

Injustiças documentadas (549)

Tempestade 

é a majestade 

do tempo.

#4129

A mão do escrivão destoa, 

amarelece quando esbarra 

nas palavras sintomáticas.

23.6.25

Efeitos retroativos

É quando apetece

recuar à meninice

só para sentir

por fingido que fosse

que o mundo 

lá fora

se cinge 

às imediações

de mim mesmo.

#4128

O fado que destoa 

um pano negro que se hasteia 

o lamento murmurado.

22.6.25

#4127

Este 

é o licor das palavras 

que se embebem 

na estética da alma.

21.6.25

#4126

Os ossos coçados 

encostam-se num parapeito 

e protestam: 

tardia vai a vida para mudar.

20.6.25

Hospitalidade

Por cada lampejo de vaidade 

a inflação dos seres acompanhava 

os estouvados.

 

As mãos escorregavam no abismo

e as sílabas voavam mais depressa 

que a fala.

 

Antes que fosse noite

folheava as páginas da véspera

à procura de perguntas.

 

Por muito que suspeitasse

a reparação da pele

antecipava-se à mentira.

 

Este era um lugar hospitaleiro

um feixe de portas abertas

à prova de espantalhos.

 

Se as almas tivessem asas

eram de toda a parte

ao acaso.

#4125

As bandeiras agitadas 

sabem ao sangue corrompido 

dos modernos atávicos.

19.6.25

Injustiças documentadas (548)

Também existe uma ética 

para a roupa anterior.

#4124

As palavras desatadas 

são como vulcões noturnos 

nas bocas agitadas que matam 

o silêncio.

18.6.25

Escombros

Por vezes 

os escombros 

são como vinhos 

de colheita tardia.

Injustiças documentadas (547)

Até tirava o chapéu, 

fosse dar-se o caso 

de envergar o mesmo.