21.3.05

Dia da poesia

As lentas palavras ecoam na solidão.
Encontro marcado na opacidade dos sentimentos
nelas, há um ruído perene
que tinge as paredes com as cores
que queremos.

Uma pena flutua, dança sobre si.
Na imensidão da planura
perder de vista, no ruminar da alma.
As ternurentas ideias esvoaçam
sem freio, gentis.

Na encruzilhada busca-se um sentido
– o sentido –
fulgurado por um turbilhão incandescente
que desvia a vista.

Doentia a busca por uma resposta.
A bravia demanda choca de frente
contra os olhos que insistem
em esquadrinhar um terreno árido.

A saída comprometida.
Um esgar de desconfiança.
Sinais vitais de um saber que se perde
entre o nevoeiro tardio que demora,
teimoso, entre as faúlhas da véspera.

15.12.04

Torrente imparável

Espreitas.
Olhas para as cores do mundo
com a curiosidade de quem desbrava caminho.
Estendes a mão.
Um dedo bem apertado,
é manancial de ternura doutra dimensão.
De ti a vida jorra sem cessar.
Um repasto arrebatador
que tenho entre mãos.
Não sei o que sentes:
nesse frémito de aprender a ser,
nesse bolear eterno
que traga as cores, os sons, as sensações
- a imagem de que não sabendo
sinto que pulso contigo.
Batidas compassadas,
articuladas,
dois corações em uníssono.
De em ti em mim,
de mim para ti,
num refluxo sem cessar:
até que sejas tu mesma.
Missão inolvidável:
Fermentar uma vida
sem saber que ela seria
a semente da reinvenção da vida do inspirador.

10.11.04

Devir

Enternecido.
Contemplar a alvura da pele,
os olhos semi-cerrados que vagueiam
em sonhos perdidos.
Encontrado.
Com o meu destino,
uma vida preenchida
num olhar alheio.
Finalmente.
Um rumo que não se perde
na bruma das erráticas veredas.

Ao acordar,
o olhar que persegue as sombras
escondidas na luz feérica.
Um esgar de espanto
numa vida que aprendes.
Olhar para quem te criou
e beber com os olhos o enternecimento supremo.
Reconfortada.

Parar o tempo.
Nos instantes em que paro diante de ti,
admirado com os mistérios de que és essência.
Também aprendo a viver.
Reaprendo,
com a tua inocência,
com a serenidade que exalas
nas pétalas perfumadas que os teus dedos
aspergem.