O ouro vertido
em lágrimas sem velo,
a ironia
de um homem arnaz.
Refúgio nas palavras. A melodia perdida. Libertação. Paulo Vila Maior
A exuberância da época
ou a embriaguez dos convidados
para o festim do consumo:
todos aos saldos
todos aos saltos.
Em meu nome
as bandeiras derruídas
os archotes contra o solipsismo
a matéria etérea nas costuras do dia
os dados que nos são dados
enquanto os dedos adivinham a manhã.
Em meu nome
constelações por inventariar
a pele junto ao peito
o forasteiro dividido
entre a pertença e a ausência
um proeminente cabo que investe contra o mar
a maresia agitada contra as bocas druidas
uma armadura à prova de mundo
o cais generoso.
Em meu nome
o paradeiro dos escrivães dos tempos omissos
a letargia fundente
o degelo armistício
o esquecimento pródigo.
Muito se fala
da última instância
sem se saber do paradeiro
da instância primeira.
Ainda esperneiam
as borras do ano ido
e uma promessa de ano
debate-se
no frágil espaçamento do tempo.
Oxalá
as carnificinas fossem todas
o efeito de poemas terçados
pelas bocas assintomáticas
de poetas e recitadores.
Um agasalho
a favor da combustão
esconjura a raiz dos medos
a fina fazenda
que faz a faina dos justos.
O olhar desimpedido
a maresia por diante
a beijar
a pele seca pelo estio dos sentidos
combina um encontro
com o luar sucessivo.
Os olhos que não se gastam
aprendem com os lugares vivos
a mortalha que se abate
límpida
sobre os tentáculos do conhecimento.
Arrasto os rostos macilentos.
O sol que ateie um fogacho de cor
à medida que estilhaçamos
as dores espúrias.
Já não há heróis
o sangue está caro
e a esperança de vida
upa, upa
custeou a inflação da vida.
Agenda para o novo ano
(AC: gente que tutela o mantra do progressismo):
extinguir o pai Natal
substituí-lo pela mãe Natal.