Andarilhos, sem parar,
voos que espalmam a vertigem
do espaço que consomem.
Cruzam-se no pontilhado
de voos desordenados.
Numa coreografia caótica,
regressam ao ninho
quando o cansaço beija a noite.
Nidificam no sossego da luz escura
que se apoderou.
Lá fora
os foliões da noite
entretêm-se entre lufadas de álcool
que anestesiam o espírito.
Não perturbam o sossego das andorinhas,
que se preparam para outro dia
de voos que são correrias desalmadas.
Quando a alvorada toma conta do horizonte
despertam para o dia renascido.
Como renascido está o piar
que se solta com o fulgor do dia.
É a vingança sobre os noctívagos
que salgam os vapores do álcool
no sono para a próxima noite destemperada.
Cá fora
as andorinhas fazem-se à vida:
incompreensível, frenética,
com o doce e rápido bater de asas,
um mergulho no abismo
que, de repente,
renova a harmonia do voo rasante.
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