As asas e o vento
desassombradas miragens
viagem em contratempo.
Sangram, as asas
de tanto vento que as traga.
Persistem,
remam na impertinência
da natureza contrariada.
Nem se perturbam
com os pingos de sangue
esvaídos do esforço irrelevante.
O vento nas asas
fosse a favor
e nada seria uma pletora
de contrariedades.
As asas pelo vento
esquadrias de espíritos retorcidos
flúem com a intensidade do vento.
Que se sente, não se vê:
paisagem insolente
tertúlia da homérica tarefa
de encontrar o rumo almejado.
Asas e vento
diálogo de surdos.
Asas que teimam na rota
não pressagiada pelo vento furibundo.
Nem asas, só vento.
O rescaldo de um desigual jogo
braço de ferro que nunca o foi.
Asas,
condenadas à nascença
dobradas nas forças exangues
extintas no vento obstinado.
Resta
o vento;
as asas, pousadas
na recriação das forças
consumidas na batalha feérica
– e inútil? –
contra o vento.
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