8.11.05

Roda dentada

Numa manhã rumorosa
acordaste
da desaparecida penumbra.

Lá fora
o barulho industrial da grande cidade
deixou de martelar a dor de cabeça matinal.

Revivias os lanços dos tempos idos,
revisitação dolente
a que o marasmo te enredava.

Libertação do torpor maquinal
sorvendo um refrescante sumo de toranjas
enquanto fitas o horizonte perdido.

Remexes numa gaveta
sem saber o que buscas;
os dedos tacteiam objectos inanimados.

Da gaveta tiras uma fotografia gasta;
incensas memórias
por ousadia do porvir.

Tempo de mergulhar
pelos nódulos que te atam
à parasitária forma de viver em ti mesmo.

E de procurar a porta da saída,
uma apertada clarabóia que seja
um novo fôlego.

Um novo fôlego
ou a árvore eloquente
que te dá a vereda necessária.

Sabes, com a certeza das coisas férreas,
que espalhas as sementes
do reencontro ao mais alto de ti.

Da harmonia que buscas, sedento,
um esteio de tranquilidade
destino cumprido, enfim.

Sem comentários: