Os montes traçam o sinal do degredo
um porto balsâmico onde os refúgios se descobrem.
Não é de ouro que partes em demanda
nem de vento apenas bonançoso
ou uma magistral correria atrás da luz quimérica.
A quimera está algures
lugar que não se procura
lugar que te encontra entre veredas virgens
caminhos idos só porque nunca dantes travados.
É a alquimia dos sonhos
que te fornece a bússola.
Deixas-te guiar por ela,
sintas,
ou não,
a navegação por estima,
uma bolina que vai e vem
arqueada nas curvas que o vento tece.
Empenhas o corpo cansado
sabes que o destino oferece a recompensa maior:
o tributo ao que tanto procuravas
um corpo então repousado no desígnio cumprido.
É essa a quimera
desafios com os salpicos do mar tão longínquo
e ainda assim perene,
presente na maresia que acama a ossatura.
Partes
com o fito bem traçado
(mas sem rumo ordenado):
encontrarás a quimera, de tanto porfiar.
Não interessa
quanta parafina queimada
na candeia que espalha a luz na noite escura
ou as feridas que laceram os pés gastos
nem o andar cambaleante ao cabo da busca perseverante;
não interessa
os montes escalados
as colinas travadas
os rios caudalosos atravessados
as cidades que te desconfiavam como mendigo
os choupos onde dormitavas ao relento.
Nada interessa
ao fitares o desafio
que te fez erguer na procissão solitária
ainda que haja uma imagem desfocada
um escurecimento da beleza da paragem tão ansiada.
Quando chegas
os corpos amontoados nas camionetas imundas
as ruas que escorrem esgotos nauseabundos
as paredes sujas das casas escalavradas
as almas indigentes que cobiçam os andrajos que levas
– tudo semeia a dúvida:
para quê ter partido
se o destino é a imagem desfocada
antítese da quimera espiolhada?
Para quê ter partido
se à chegada encontraste
apenas
uma miragem?
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