Há um santuário
onde só o impossível é prometido;
lugar luxuriante
com as pedras almofadadas
sons que enfeitiçam os sentidos
e colchões amansados pela febre contida.
As searas queimadas pelo sol estival
são o leito onde vêm repousar os corpos.
É nesse santuário
que te recolhes na tua plenitude,
barca das amarras libertada
soltando a fúria que as correntes domina.
Vem a perfumada pele
deitar-se no relicário
receber as instruções que desnudam o roteiro
para o púlpito que trina a pulmões cheios.
No santuário
como se o tempo estivesse suspenso
e as flores que incensam o espaço
se dobrassem perante a dança dos corpos.
Uma anestesia fulgurante
murmureja aos ouvidos,
que latejam;
as luzes,
ora acesas ora apagadas,
em compasso com a passada,
algures ritmada,
outras vezes aleatória;
os dedos passeiam pelas pontas vertiginosas
quebram a anestesiante condição
devolvendo a imensidão das planícies douradas:
um sol, alto,
no céu que se perde
e nem nuvens nem brisa
apenas as lágrimas da transpiração
no exultante retrato dos corpos endeusados.
No apetecido santuário
somos apenas nós
sem liturgias nem cadafalsos;
encantada transfiguração dos corpos escondidos
através de uma encenação feérica.
Poderão
as mãos quentes e a boca faminta
com tanta sede,
para o santuário ser altar
dos corpos que se fundem
em uníssono
até um só erguido ao alto
ao lugar tão alto onde só alcançamos
quando, deitados,
os corpos repousam escoltados
pelas paredes do santuário.
Haveríamos de regressar ao santuário
uma e mais vezes:
por certeza que é lá
naquele lugar tão recôndito
que desatamos as pulsões aprisionadas.
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