Há cores
que fingem a alegria dos dias fugidios.
Amores
que só valem por não serem vividos.
Pessoas que se cruzam,
rostos alegres
outros sofridos
outros apenas indiferentes.
As mãos esculpem o vento.
Há passos apressados
outros embriagados pela voragem que passa na tela.
Prospecções de destinos impossíveis de distinguir
veredas cansadas por onde os pés se ausentam.
E palavras,
todas as palavras convocadas para a orgia dos sentidos.
Atropelam-se, as palavras,
num rumorejo ensandecido;
vêm as palavras
com a sua energia transbordante
batem nas pálpebras,
são como choques eléctricos de quem,
desprevenido,
deslizou os dedos para a tomada.
As cores tingem o céu e as árvores
bafejam o ar que se respira.
Todas as cores,
as boas e as perturbantes,
sinfonia exaltante do lídimo existir.
Herméticas, numa paleta sedutora
ou misturadas no torpor de fantasias inquietas.
As cores casam-se com as palavras
arquitectam a estátua onde nos deitamos.
A estátua particular
a cara inigualável
os sentidos que diferem como frequências de rádio
uma variedade caleidoscópica
– a imensa riqueza, património genético da humanidade.
Descontam-se atropelos
ignoram-se dissimuladas personagens
e nem os vorazes precipícios perturbam
a serena dormência que apascenta
o mais alto que somos.
As palavras
na sua tremenda revoada
dançam ao vento
e contra o vento
como as pusermos à mercê dos desejos.
Afagam, acariciam, incomodam, violentam,
tragam os montes e vales que são a distância adversária;
as palavras compõem as cores
do caleidoscópio de nós mesmos
pasto onde esfaimados espíritos colhem nutriente.
Embatem no peito
e, pela dor que cimentam,
traduzem a beleza dos afogueados sentidos;
dos sentidos que se entregam à coreografia sublime:
abraços que falam mais alto
beijo singelo que colore dias tão plúmbeos.
No seu inquietante sossego
as cores e as palavras são um rio caudaloso
correndo rumo à foz.
Quem pode recusar
ser figurante deste fremente caleidoscópio?
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1 comentário:
realmente... a vida e a sua inevitabilidade, imprevisibilidade. apesar de mutias vezes nos frustrar, a verdade é que tb nos proporciona momentos simplesmente fantásticos, razão pela qual conseguimos acreditar k a felicidade verdadeira é possível...
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