1.3.07

Sitiado

As pernas trémulas calcam as folhas húmidas
avançam a medo entre a escuridão
as mãos tacteiam entre os muros frios
do labirinto.

Tropeçava em cadeiras derrubadas;
houvesse uma centelha que fosse
pródiga a alumiar a saída
do labirinto.

Às tantas, sem saber se sonho ou matéria viva,
cambaleava entre os muros lisos
sensação de vogar em círculos
atraiçoado pelo labirinto.

Naquele sítio, todos os instantes são nocturnos
medonhos sussurros que descem sobre o ouvido
e agendam a masmorra que é a ameaça
labiríntica.

À entrada, despojado dos pertences
é nu que a saga prossegue
pisando os vidros partidos invisíveis
nas trevas do labirinto.

Diria que lá fora trovejam gargalhadas insanas
a audiência disforme no entretenimento
dos algozes dos corredores onde vagueia
o prisioneiro do labirinto.

Nas incontáveis encruzilhadas
o prisioneiro entrega-se na imensidão
de uma loucura trepidante
que pulsa nas veias do labirinto.

As lágrimas que verte,
lânguidos esforços das paredes inconfessáveis
do chão tingido com o sangue derramado dos pés cortados
na pujante asfixia do labirinto que se encerra.

A certa altura, o tecto parecia ser mais baixo.
Não era ilusão: o corpo rebaixava-se
contorcia-se em espaços onde mal cabia dobrado
no cavernoso labirinto cortante.

O intrépido silêncio era um punhal doloroso:
só escutava o seu arfar aflitivo
e mais se condoía por ter franqueado
as convidativas portas do labirinto.

Havia apenas uma dúvida diante dos olhos:
quanto tempo levaria o pungente sacrifício,
ou, se acaso pesadelo era,
quanto tardava o balsâmico despertar.

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