Sabes?
Guardo segredos sem importância
fragmentos estilhaçados de vidas passadas
tento tecer as pontes que semeiam
harmonia.
Percorro a noite,
assustado.
Interrogo os fantasmas
se querem decifrar os segredos;
ao que me respondem com o silêncio escuro.
E assim ficamos
eu e os fantasmas
emparedados na encruzilhada sem pavio.
Pode vir a manhã mensageira
que os segredos teimam em bater alto
contra o meu peito.
Sei então que os guardo
só não sei da chave para os desacorrentar.
Queria que fosses penhor
dos segredos que tenho.
Queria que me dissesses
se são importantes,
ou apenas anónimos grãos de um imenso deserto.
Queria que fosses deles cúmplice
nem que fosse para que deixassem se ser
segredadas oníricas nuvens
que se ilidem na matéria
– ou eles os fantasmas avassaladores.
Mas nem eu sei de que jaezes são os segredos;
Nem eu sei
sequer
se há segredos.
Desconfio que sim
pelas aves que voluteiam por cima de mim
pelas brisas alterosas que me arrepiam a pele
pelas coincidências na dissimulação das superstições,
por tantos augúrios.
Oxalá
se abrissem as janelas
e os segredos só meus
sussurrassem
as inconfessáveis, amedrontadas
palavras da sua decifração.
Ou talvez não:
temente que os segredos
se desfaçam na desilusão que resguardam
promovidos a matéria insensível
arquivados no vetusto esquecimento.
Pelo caminho
apenas uma perdida oportunidade
de te fazer cúmplice
de uns quantos segredos meus.
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