Os aplausos ensanguentam as mãos.
Não se cansam
diante da gloriosa expressão das palavras
ecoando
insinuando-se
entranhando-se
onde nem cirurgiões levam bisturis.
Há uma magia das palavras
vomitadas no seu fogo
as palavras-alimento
melodias graúdas que escorrem pelo ouvido
e levitam nas paredes da garganta.
Vêm aquecidas no seu fogo:
são a combustão do espírito
a depuração até das gelificadas armaduras
jamais orgulhosas da sua insensibilidade
- perdida.
As cores admiráveis
consagram os aplausos:
tecido aveludado
onde o poema incendiado repousa,
complacente.
No veludo onde as chamas se aquietam
o poema redobra a sua grandeza
cavalga nas ondas sopradas por um vento vadio
cresce
e mergulha sobre os corpos.
Na combustão audível
desfaz a nostalgia dormente
traz os corpos da sua letargia.
É o poema
combustão dos corpos
a centelha dos músculos apiedados.
E os corpos
entregam-se numa furiosa peregrinação:
batem às portas do pensamento
expelem as lavas das interrogações
incomodam-se com a placidez.
Arremetem sono dentro
e despedem o sossego
- imparáveis na excitação do conhecimento.
E o poema,
intemporal.
O poema dito e lido
legado perene com as cintilantes âncoras
do navio museu sempre ancorado no cais.
Intemporal
como o feixe de luz,
irradiação das chamas que latejam
a armadura onde se recolhem as estrofes do poema.
O poema lancinante,
poema matriz:
nas palavras entoadas
tudo seria ilusão
(a ilusão, ao menos)
dos fragmentos da bondade indescritível.
As pessoas seriam felizes
os rostos irradiando uma alvura leve
as mãos sem as suas rugas
os corpos alindados
despidos de maleitas.
Só haveria tempo e lugar
para esboços da plenitude interior;
a sua antítese
logo fulminada por um raio cósmico
que chegaria,
alado,
dizendo que os felizes estavam garantidos.
O poema
a combustão de toda esta frenética bondade.
Pelo poema
tudo tingido
com as cores que embelezam os dias
sempre uma luz clara
o farol arquétipo.
Nos vastos campos habitados pelo poema
até a tristeza seria vestida
com as cores da beleza.
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