16.12.14

Harmonia

As pedras coalhadas são o chão ceifado
por onde seguem alces destemperados.
Rios apascentados emprestam suor à paisagem.
Estorninhos vigiam o arvoredo, procuram intrusos.
Um padre peregrina.
Um cantor assina a pauta dos sabores.
Um cozinheiro ensaia a coreografia ousada.
E nem o bailarino tem a têmpera para meter a mão em arte alheia
nem os julgadores se fazem rogados para ciciar nas costas dos dementes.
As rosas não estremecem na coloração
nem com trovoadas medonhas que descarregam toda a ira.
As rochas agarram-se às raízes
não querem ser desapossadas do seu chão.
As pessoas entrelaçam-se em abraços dóceis:
não há estranhos entre ninguém.
As estrelas que incensam a noite ensinam o rumo
mesmo que as nuvens escondam o céu.
Os frutos colhidos são doces como nunca se soube.
O papel está branco
à espera de ver nele vertidas as palavras quiméricas.
O corpo,
indomável,
não mete freios aos impulsos.
Só contam os prazeres.

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