16.4.15

Fiel depositário

A justa medida.
Desconta:
o olhar poltrão
o esbracejar que berra
a estrela da televisão ávida de reconhecimento
os pregadores que vomitam moralidade
(tacanha, como são as moralidades)
os bácoros que linguajam brutalidade
os tubarões que tudo açambarcam na sua inveja diletante
as vetustas velhinhas
(que rivalizam com os pregadores)
os magalas que encenam a próxima bebedeira
os executivos apessoados
que ouvidos deviam deitar aos pregadores
(se não soasse a antinomia)
os intermináveis candidatos a cassiopeias
as sumidades que transpiram intelectual estalão
e destilam pesporrente e elitista erudição
os mestres de cerimónias e os mestres de obras
que não mestram coisa que valha
nem obra que tenha valimento
as pitonisas em tirocínio
e os vitorinos eternamente prometidos
os boçais que saem da churrasqueira de palito na boca
os narcísicos com espelhos pinóquios
os polícias que protegem as leis e os polícias dos costumes
e as proibições a eito
mais a ordeira obediência como sinal de pertença.
Ensaia os teus deslimites
a ópera da transgressão
se julgares que esse é o tributo cobiçado
ao existir descomprometido.
O resto,
o resto desimporta.
Nem que tenhamos de desinventar.
E de desnascer:
para o nascimento outra vez.


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