Aferroa o garfo
pontiagudo
como se
quisesses prostrar uma abelha louca
e traz ao de
cima os olhos límpidos.
Mostra os dedos
brancos
o rosto
desembaciado e loquaz
os dizeres
probos em palavras singelas.
Protesta contra
os ladrões de sonhos
contra os
melífluos atores que se entronizam
num altar vazio.
Desembainha a
espada que estava de reserva
assesta os
golpes que tiverem carestia
sangra os
incapazes de serem íntegros.
Não te deixes
embrulhar nas vestes infectas
não digas as
palavras rombas
não rias quando
te apetecem carantonhas
não faças o que
entendes por contrafação.
Diz que não.
Não.
As vezes que
forem precisas.
Porque, às
vezes,
o não é o êmbolo
da construção.
Não te empenhes
nas vicissitudes que não são tuas
não sejas peão em
mãos alheias
tolo peão num
fartote de poder baço.
Destrava as
palavras que vêm à tona
com o fermento
das uvas fortes.
Não balbucies
protestos vãos;
berra-os nas
fronteiras da surdez
até que dos
outros sobre medo.
Deixa-os serem
contumazes
inquilinos de casas
sem janelas
animais
acossados pela proverbial imodéstia.
Arranja as
cordas adelgaçadas,
o cadafalso onde
marcam encontro os felisteus.
Atira-os contra
a parede
vomita-lhes a
ira sem freio,
a ira que eles
desataram
e em que foste
vítima sem vontade.
Açambarca as
artes amargas que adestram algemas
e monta nas suas
bocas um corcel que os cale.
Depois
quando o sono
vier derrotar a insónia
repousa no
bálsamo do teu leito,
orgulhoso pela
retirada de cena
dos asnos que
não passam de tirocínio de gente.
O sono aplaca a
ira.
Já não precisas
de mergulhar nas vinhas
de onde buscavas
os rudimentos da ira.
Traz os bagos
doces para o teu regaço
adultera a
imaterial acidez,
fruto dos outros
num fruto que de
ti faça temperado rei.
Num reinado
em que sejas
suserano e súbdito
sem as teias
engorduradas
com o aval de
destemperadas reses.
Para seres o sol
que vem de dentro de ti
deixando na
opacidade as vetustas alarvidades
que medram no
exterior.
A ira
não tem
serventia.
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