17.9.24

Lupa

A pele suada corre para o precipício. 

Extasia-se, 

quando centelhas do dia corrompem a luz

e um diário se antecipa ao lugar dos deuses. 

Dizes

somos neutrais 

às profundezas em que se divide o mundo;

terrivelmente céticos

arranjamos o desmedo como modo de vida

em vez de sermos parturientes de achados

procuradores

das grandes teorias que simplificam o mundo,

as teorias que insultam o mundo

que sabemos ser incapaz de caber

em duas dúzias de palavras. 

Cobramos ao mar arrefecido

o alumínio que ferra a boca

a ossatura em que se fingem proezas;

anexamos apenas 

aqueles pequenos pedaços de pele

que ainda não tinham suado num beijo. 

E povoamos o dia 

com um copo de vinho

um poema indelével

a recordação de uma peça de teatro

toda a alquimia de que fomos autores

e toda aquela que os dias irascíveis saberão ter

por deixarmos 

em tatuada batuta mestra

as estrofes que dispensam fala

a amostra das palavras que colhem das árvores

as invisíveis armas a favor da indiferença. 

Sem comentários: