A pele suada corre para o precipício.
Extasia-se,
quando centelhas do dia corrompem a luz
e um diário se antecipa ao lugar dos deuses.
Dizes
somos neutrais
às profundezas em que se divide o mundo;
terrivelmente céticos
arranjamos o desmedo como modo de vida
em vez de sermos parturientes de achados
procuradores
das grandes teorias que simplificam o mundo,
as teorias que insultam o mundo
que sabemos ser incapaz de caber
em duas dúzias de palavras.
Cobramos ao mar arrefecido
o alumínio que ferra a boca
a ossatura em que se fingem proezas;
anexamos apenas
aqueles pequenos pedaços de pele
que ainda não tinham suado num beijo.
E povoamos o dia
com um copo de vinho
um poema indelével
a recordação de uma peça de teatro
toda a alquimia de que fomos autores
e toda aquela que os dias irascíveis saberão ter
por deixarmos
em tatuada batuta mestra
as estrofes que dispensam fala
a amostra das palavras que colhem das árvores
as invisíveis armas a favor da indiferença.
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