23.8.25

Desobediência

Permitia o verbo dissidente

enquanto pendia sobre a fogueira

todavia de atalaia aos mastins desenfreados. 

Sentado numa margem

(a margem da sua escolha)

olhava os altaneiros procuradores 

com desdém 

deles desconfiando por dever de princípio. 

Os outros também desconfiavam dele:

era por intimidação

esbracejando com o medo da dissidência

e com a solidão que lhe era dedicada

como preço a pagar pela ousadia. 

Esse era o incentivo diligente que precisava

para continuar a morar naquela margem. 

Não brandissem bandeiras

hinos que faziam levantar plateias

os ossos dos antepassados 

como fermento da pertença

ou até o idioma por que se faziam entender

(que a língua só é pátria para os literatos

que a usam como ferramenta de profissão)

não despachassem para os compêndios da História

ou para outras mnemónicas sebastiânicas: 

a matéria-prima que precisava

era o livre pensamento

dispensava 

todas as trelas aparelhadas 

pelos diligentes engenheiros

que ensinam a obediência irrenunciável. 

Até hoje

não se arrependeu.

Sem comentários: