[Crónicas do vírus, CXCVI]
Da teoria do milagre
à teoria dos heróis,
o roteiro de um logro.
Refúgio nas palavras. A melodia perdida. Libertação. Paulo Vila Maior
[Crónicas do vírus, CXCV]
Ecoava dos oráculos
um “novo normal”;
os assimétricos pratos da balança
em que a justiça se pesa
exibem um parto gorado.
[Crónicas do vírus, CXCIV]
Testamento
para memória futura:
os vindouros que não esquecem
das fronteiras revividas.
O corsário
não se mede
pelo tamanho da pala
que lhe embacia o olho vago.
O corsário
tão pouco se aprende
pela vacatura do olho:
a pala como embuste
pode embaciar
um olho pleno.
O corsário
tanto é corsário
com um olho vago
ou com os dois plenos.
Os cinco minutos de luar
fogem da penumbra
em seu palco alvar.
Dir-se-ia:
esta
é a primeira estância
aquela que recolhe
as preferências dos corpos estivais
e as sombras desmaiam
no intenso, garrido mostruário do sol.
Por isso
há cinco minutos em cada dia
e uma clepsidra urdida
nas árvores que se abrem
floridas
ao espanto dos literatos.
Há cinco minutos
esperava pelo seu acontecido.
Na companhia do luar
em seu epílogo.
Não sabia
que África podia ser
em Lisboa.
Às onze da noite
o calor estático
engana
o equinócio das horas.
Não sabia
que as palavras
podiam escorrer,
suadas.