Dizias:
eu trago no avesso de mim
um tesouro da Mesopotâmia
o ouro esquecido em mortalhas
e num copo de uma bebida branca
arrefeço a intempérie.
E eu
não sabia o que dizer;
amadurecia o silêncio
(talvez o silêncio descobrisse
a palavra certa
– mas, e por que era precisa
a palavra certa?)
Convocatórias de demónios
eram em barda
vultos vaidosos povoando os deuses
miragens cultivadas em sementes de laboratório
um pisa papeis calcando um dedo distraído
e o deboche em surdina
denunciando os querubins sem açaime.
Não dizia nada
e contudo
as ideias atropelavam-se à boca de cena
caiando o silêncio
com o fermento das palavras retesadas.
Dizias
nunca soube entender
as margens arrematadas
os longínquos nevoeiros sem maresia
as estátuas disformes à porta da galeria
a gente despenhada no cofre da audácia
as fronhas das almofadas fora do lugar
como prova do sono.
Desarmado
continuava desarmado
(ou não intuía
o significado das tuas palavras).
A tela era o epitome da claridade
e aos oximoros dizíamos
nada
dizimados pelo contrabando das almas
atingidos pela trovoada da insensatez.
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