Dentro do espelho
não há raízes
apenas
o olhar límpido
desmatado de falas sombrias.
Nado por dentro do mar
colho o sal no sangue álgido
e nem assim
sou elemento inato;
dantes
o mar era juramento
e um gato enrolado no sono
mestramente súbdito do areal
onde bisturis metódicos se afunilam
sabe-se lá se à procura de tesouros
ou do ouro escondido nas próprias mãos.
Tiro o estibordo com a lente baça
e as asas desembaraçam-se do vento
em boa hora,
em boa hora.
Não fossem os heróis todos mortos
e a voz perdia o gongórico véu
para se somar à pastoril montanha
que desaparece na litania do horizonte.
Mas não sou viável cruzador
neste mar temperamental
não sou marinheiro
por medo tido por penhor
das náuseas matinais.
É em terra
que sinto o cofre
e da tua boca bebo o manancial
a língua que se enrola na minha
e os versos que sobem à crueza da pele
em remoinhos desalinhados.
Espero pela razia dos miseráveis
e não os tenho por materiais convenções:
os miseráveis
que se convocam na jactância
no solipsismo desarranjado
na vítrea fonte onde a água se empareda.
Até posso ser errante
que da minha transumância sou garante
em nome de um nome só
o nome que adoço na boca
quando
a boca tua na minha tem fusão.
Para depois
antes de todas as vésperas
antes
que as janelas sejam desfronteiras
e todo o vento carregado de adjetivos
esbarre nas nossas couraças
seja eu promontório.
O alto:
para que a maré
pare a tempestade.
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