9.6.20

Os bons olhos

Ao que dizes
são bons 
os olhos que me veem.
Parto do pressuposto
da validade dos olhos

(até porque aspiro
a que seja de idêntica linhagem
o que os teus bons olhos veem).

Repito:
parto do pressuposto
da validade dos olhos:
afligia-me
ter no meu círculo
gente de má rês.

Porém, 
permite-me
um porém:
sem querer esconjurar
a reflexividade feérica 
que tens dos teus olhos
não sei

(também não sabes
a menos que te lo certifiquem
oculistas credenciados)

se não há miopia 
em teu pesar das circunstâncias.

Antes de prova em contrário
travo como bons os olhos teus;
mas, 
até prova em contrário,
podes garantir
que não são teus olhos
uma corruptela do que soíam ser?
É que te vejo 
ornamentado de lentes
quando dantes te sabia
isento do maximizador de dioptrias.

Não te apoquentes:
não é por se servirem de lentes
que os olhos 

(teus 
ou de outrem)

deixam de ser bons.
Era só eu 
a erradicar a monotonia
e a provocar um sobressalto 
na tua autoestima.

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