10.6.24

Desmaterialização

Porque

no dia após

todas aquelas pessoas

deixam de existir.

9.6.24

#3177

Cento e dez metros 

barreiras 

não é coisa de se 

fiar.

8.6.24

Isometria

Ele há gente,

muita gente

e gente muito gente.

E eu

astrónomo amador

capataz das minhas próprias

fragilidades

não auguro grande diferença.

#3176

De sentido itinerante 

a palavra entranhada 

de metáforas.

7.6.24

#3175

Ama o mundo,

o movimento centrífugo

do teu passar.

6.6.24

#3174

Estes 

os nomes oxidados 

embaciam as páginas do dia.

5.6.24

Injustiças indocumentadas (369)

Ninguém fala

de fazer 

figuras alegres.

#3173

Um arnês 

à volta do sangue 

para travar garraiadas 

um arnês que aperta a jugular.

4.6.24

Injustiças indocumentadas (368)

Enterra

o ente que erra

em terra

e faz “enter”

antes que se desenterre.

Injustiças indocumentadas (367)

Têm a certeza 

que as pérolas gostam 

de porcos?

#3172

Milagre condicional 

o adiamento sem mecenas 

que calça a pele ainda válida.

3.6.24

Espartano

É o mel contínuo

a boca sem contraste

a medalha de mau comportamento;

 

a mediania,

sim, a mediania,

oh lacustre imponderabilidade

que nos entranha o ADN de nenúfares:

 

essa 

tanta 

fragilidade;

 

o frugal desejo desmatado

pólvora humedecida pelo orvalho fundeado

e lá longe

o coaxar das rãs e o sibilo dos pássaros:

 

a gramática da noite ausente.

 

De

tanta

a fragilidade

junta:

 

as mãos ermas

polvilhando as florestas robustas

desmentindo os arquitetos serviçais

no provérbio sem formatura

que testa 

as paredes de vidro.

#3171

Viva, 

a roda roda

na viva voragem

da vida.

2.6.24

Biblioteca

De cada vez que atiras a mão

as lágrimas amotinadas retesam-se

como se as estradas perdessem as curvas

e de um pesar militante 

se fizesse silêncio.

 

De cada vez que recolhes a mão

o labirinto aperta a jugular

dissolve a voz prometida

e as danças amestradas sobem aos dedos

só para calarem o silêncio.

Injustiças indocumentadas (366)

Campanha para eleições

dia(s) das mentiras.

#3170

Ateias as teias 

herdadas das ateias

no tear gasto da candura.

1.6.24

Injustiças indocumentadas (365)

Podes começar

pelo post scriptum.

#3169

A apneia do olhar,

dizem,

a lucidez que fala, 

exuberante.

31.5.24

#3168

A luz inaugural 

descose a penumbra 

a cidade acorda de atalaia 

ao rio mecenas.

Tribunal dos espartanos

Impuro

o avassalador tremor

contagia o medo.

 

As bocas frágeis 

pedem o colostro 

das mães altivas.

 

Não se ensaia a noite

nas danças povoadas a limão

e na idade sem luxo.

 

Os animais

habitam os lugares meãos

inabitáveis, porém.

 

Os deuses não falam;

 

combinam farsas sem olhar

e deixam aos mortais

as portas guardadas 

no aval dos segredos.

Injustiças indocumentadas (364)

A caravana ladra 

e os cães passam.

#3167

Os mares todos 

não chegam 

para tanto fingir; 

os rostos e as almas 

aprenderam a descafeinar.

30.5.24

#3166

O bacharel 

pede mel

à medida do 

venerável.

Injustiças indocumentadas (363)

Passagem,

de nível.

29.5.24

#3165

Uma praça

não se pode chamar

da batalha.

28.5.24

Manual de intenções contra as ideias feitas

De portagem que se paga

no lúdico amparo de ideias feitas

desembolsam-se fortunas estéreis

tão estéreis

como as ideias 

que já estão feitas. 

Devia ser o avesso:

quem fosse patrono de pré-fabricados ideias

teria de arcar com um estipêndio

para nos apetrecharmos com armas de proteção 

contra as armas de destruição maciça

que são os lugares-comuns. 

Quando a renda pública não se ressentisse

sinal seria 

que as ideias feitas 

estavam em vias de extinção

e a despoluição mental,

encomendada e já aviada,

não demorava a arrimar 

nas caixas de correio.

#3164

Os olhos

ansiosamente incensados

habitam numa febre capaz

bebem nas palavras recolhidas

em versos.

27.5.24

Injustiças indocumentadas (362)

Os altos quadros

obedecem 

a um mínimo de estatura?

#3163

Um rosto órfão

a pedir

um nome.

26.5.24

Injustiças indocumentadas (361)

E o guarda-costas

não guarda

o resto?