Sacrificiais ritos,
não os corpos ungidos
com a benevolência divina;
corpos flagelados
corpos dilacerados pelas bombas
que ecoam a voz dos guardiães de um deus.
O sangue que escorre é o grito dos deuses
as metralhadoras e o terror
na voz dos deuses
ou pela voz dos que dizem falar por eles.
A interrogação:
e os deuses não são um imenso oceano de bondade?
As imagens do mundo
desnudam outra verdade,
impiedosa
cruel
martírio inacabado
impensável altar de sacrifícios
o ímpio odor da antítese do que são os deuses.
Estarão os deuses excomungados
pelos guardiães da zelosa ortodoxia
que clama em seu nome?
Serão ainda mais miragens
na boca apodrecida dos que usam violência
para vingarem o nome do deus supremo?
Na entrega desassombrada aos destinos divinos
o acto empenhado da ausência de si mesmo
deificação de uma imagem sem substância
e amesquinhamento dos dissidentes.
A morte,
quantas vezes.
Na cartilha do agnóstico
deus
entidade inexistente;
a fazer fé nas crenças alheias
sinónimo de uma benevolência infinita
simulacro de um celestial
prémio Nobel da paz.
Andamos todos enganados
mais os zelosos reitores das religiões
na enérgica demonstração de superioridade
do seu deus.
Ou deus é um embuste
conivente que é com as intolerâncias
as violências diversas
o sangue derramado
as vidas ceifadas em seu nome.
Se deus é a fonte da vida
como pode tolerar que em seu nome
mortos sejam tingidos
com as setas venenosas da sua doutrina?
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