Acamar a letargia
enquanto o epicentro da raiva
ondeia no limar da demência.
Algures, do escuro,
há-de vir um raio de luz
a candeia acesa para o dilema.
Os lençóis bem dobrados
iludem o lodaçal que a letargia é,
remoinho donde não há arte para fuga.
No entanto, acetinados,
os lençóis onde a letargia aconchega
ali estão, apetecíveis.
Na convidativa forma dos acamados
camisa-de-forças sem retorno
ou cálice com a doce cicuta da prisão demorada.
A salvação, única,
na recusa do convite apetecível:
a impreterível tortura de sono.
É alto o risco:
da demissão do que nos habita
apoderado pela mansidão que nos dilui.
Põe-se a modorra ladainha
e jamais se liberta dos poros
dos tímpanos, da visão amansada.
Quando invadir as células cerebrais
e deitar mão do pensamento
somos apenas criaturas disformes, desapoderadas.
É imperativo declinar o venenoso convite
denunciar o fétido leito feito masmorra
pronunciar o livre arbítrio;
porque
no livre arbítrio
se consome a essência de todos os eu
todos, sem excepção, com direito a sê-lo.
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