Do alto de um castelo alvar
o grito a pulmões abertos:
protesto sofrido
pelo desamor que milita
nas avenidas por onde nascem
espinhos que se cravam nos pés.
Ao vento
os ecos diluem-se nas serranias em redor;
lá ficam,
perdidas,
as sílabas gritadas
com a força de pulmões trinados.
Batem nas árvores e nas rochas,
as sílabas exangues de tanto uivarem,
e sabem que no seu repouso
nada fertilizam
– apenas o seu túmulo,
derradeiro,
a ensandecida rouquidão da voz
distante, cansada.
Uma enseada escondida
que só elas conhecem.
Revolvem as folhas húmidas
de uma noite fria.
Buscam um canto seco e quente
para nidificar.
Espera-as o nada
ou o tão elevado altar
onde se resguardam,
eternamente.
Lá
onde ninguém visita:
o seu sepulcro
a elegia das palavras perdidas
que podiam embelezar-se,
ganhar vida própria,
ascender ao patamar do património partilhado
pelo séquito de bebedores de palavras inebriantes.
Outro o seu destino:
fadadas para serem,
como milhões e milhões o são,
espúrias sílabas
só importantes para quem as soltou
– e só naquele momento de exaltação.
Sem poderem aspirar à grandeza intemporal
das palavras emolduradas
no lugar onde as coisas são eternas.
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