E
se o sol retardasse o entardecer?
Se
as velhinhas se despissem da coscuvilhice?
Se
os gatos e os cães viessem com genética trocada?
Se
a lua adejasse sobre a luz diurna?
Se
os chacais fossem curadores da bondade?
Se
os algarismos fossem frases completas?
Se
o vómito de um bêbado adubasse a magnólia?
Se
as crianças ensinassem leituras aos mais velhos?
E
os velhos desdenhassem o firmamento?
Se
os esteios fossem os lados frágeis do mundo?
Se
os mares perdessem o sal e a areia fugisse das praias?
Se
em toda a comida se extinguisse o paladar?
Se
as mãos não se embotassem de afetos?
Se
os pássaros fossem juízes da gente?
E a
gente fosse toda mundana?
Se
as pedras sob os pés fossem um tapete de veludo?
Se
as pedras atiradas enfeitassem quem elas atingem?
Se
os ultrajes se virassem do avesso?
Se
um módico de confiança não fosse atraiçoado?
Se
a boçalidade fosse espécie em extinção?
Se
se reinventasse a escrita?
Se
fossem depurados os olhares que se deitam sobre as coisas?
Se
a noite fosse banida na perenidade da luz diurna?
E
se os sonhos perdessem a espessura de sonhos?
e
nem os pesadelos troassem no lugar escondido do pensamento?
Se
as coisas fossem antípodas do que são
e
as palavras ganhassem sentidos singulares pelas bocas diferentes
e
toda a linguagem fosse uma metáfora de um pulsar radioso
e
as mãos tocassem sempre ouro em teclas de piano enfeitiçadas?
E
se fôssemos partes inteiras e não a soma de todas as partes?
E
se as sombras não fossem apenas tédio?
E
as utopias uma linhagem das coisas que há?
E o
que seria
se
não houvesse pontos de interrogação?
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