11.8.15

Pele lavada

Já sabíamos
os mistérios da alvorada.
Éramos armadores dos seus segredos
enquanto a bruma subia por cima
da copa das árvores.
Já sabíamos
que as lágrimas furtivas
não se embebiam em fortuna.
Éramos lugar-tenentes da sobriedade
e nem nas folhas rasteiras víamos ardil.
Já sabíamos
a sapiência dos mastros.
Éramos forcados ambulantes nas hastes alheias
e no fim levávamos o troféu.

Já sabíamos
que o mel e o ouro são nossos.
Por mais que o mar cicie o contrário
as mãos colhem das algas a maresia inteira.

Já sabíamos
que os poros se enchiam de luar.
Éramos argonautas sedentos do neófito
em forma de coroa de diamantes.
Já sabíamos
que o suor se insinuava nos poros.
Éramos ambidestros na decantação da cicuta
enquanto a lua nova antecipava a luz inteira.
Já sabíamos
que os olhos se enchiam em troca.
Éramos timoneiros de todas as naus
em que olhos doirados fossem embarcadiços.

Já sabíamos
das rosas com espinhos abruptos
das uvas amarelecidas e gastas
dos rios desbragados, iracundos
dos espíritos macilentos
das arcadas desabitadas
(e daquelas habitadas por inumana gente)
do restolho das árvores
dos ocasos dedilhados na fronteira da lucidez.
Já sabíamos
tudo isto e outro tanto.
Éramos os diligentes penhores das palavras
enquanto cerzíamos a intensidade
por dentro de nós.

Já sabíamos
que só podíamos contar
com os frutos que nascem das nossas mãos.

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