19.12.25

Niilismo categórico

Não acredito em nada

nem nessas faustosas teorias

que celebram o nada em teoria.

 

Não acredito

em balas e em bolos

na posse da erudição e na contrição

na bondade e na originalidade

Na escorreita afirmação da sabedoria

e da malévola intenção que tem curadoria:

 

nos estultos

e nos proeminentes vultos

nos disfarces de farsa

e nas medidas avantajadas da graça

nos polícias dos costumes

e nos zeladores de estrumes

nos saudosistas do futuro

e nos apóstolos do kuduro

nas massas intestinas

e nos arrotos das meninas

na pujança da bruta força 

e na corda de que a teimosia troça

nos jornais cabedais

e nas conspirações demais

no vinho adamado

e no reclame que não se faz rogado

nas rosas viçosas

e nas ruas vistosas

nas bocas exuberantes

e nos colóquios comunicantes

nas verbas rasantes

e nos olhos escaldantes

nas árvores matriciais

e nas agulhas geniais

no perfeito acabado

e no imperfeito castrado

nas intenções marejadas

e nas deusas ultrajadas 

nos olhos extáticos

e nos poemas fantásticos

nos nomes angariados

e nas flores nas mãos dos irados.

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