Não acredito em nada
nem nessas faustosas teorias
que celebram o nada em teoria.
Não acredito
em balas e em bolos
na posse da erudição e na contrição
na bondade e na originalidade
Na escorreita afirmação da sabedoria
e da malévola intenção que tem curadoria:
nos estultos
e nos proeminentes vultos
nos disfarces de farsa
e nas medidas avantajadas da graça
nos polícias dos costumes
e nos zeladores de estrumes
nos saudosistas do futuro
e nos apóstolos do kuduro
nas massas intestinas
e nos arrotos das meninas
na pujança da bruta força
e na corda de que a teimosia troça
nos jornais cabedais
e nas conspirações demais
no vinho adamado
e no reclame que não se faz rogado
nas rosas viçosas
e nas ruas vistosas
nas bocas exuberantes
e nos colóquios comunicantes
nas verbas rasantes
e nos olhos escaldantes
nas árvores matriciais
e nas agulhas geniais
no perfeito acabado
e no imperfeito castrado
nas intenções marejadas
e nas deusas ultrajadas
nos olhos extáticos
e nos poemas fantásticos
nos nomes angariados
e nas flores nas mãos dos irados.

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