Troco
um bispo com diarreia
por uma mialgia de nevoeiro.
Troco
dionisíacos baluartes da vacuidade
por um garfo torcido.
Troco
ascetas de ideias apessoadas
por um vulgar normativista de ideologias.
Troco
as rodas comunicacionais
pelo parafuso sedentário.
Troco
a facúndia dos inteligentes
pelo silêncio dos modestos.
Troco
a espada ensanguentada de vitória
pelo repouso nas montanhas desimpedidas.
Troco
o sacrifício por causas
pela honestidade interior.
Troco
uma página quimérica
por uma cordilheira de livros.
Troco
o ouro ajuramentado por falcões inescrupulosos
por um rio indomável.
Troco
terras havidas em artes bélicas
por um beijo da mulher amada.
Troco
as mãos dadas às grilhetas do conforto
pelas mãos insubmissas no fermento da vontade.
Troco
os olhos adestrados
pelos vulcões ainda adormecidos.
Troco
sinecuras e genuflexões e outras gratificações
pelo chão doce do anonimato.
Troco
o mar inteiro
por uma janela que sobre ele de atalaia.
Troco
a certeza com marca de água
pela interrogação alistada.
Troco
o despontar das almas outras
por um mapa a régua e esquadro.
Troco
a promessa da eternidade
pelo hoje entoado na luz bruxuleante.
Troco
exércitos sedados pelo triunfo
por um lugar desconfortável no teatro.
Troco
a algibeira ostensiva
pela lógica mesmo que não tenha lógica.
E troco
impérios em trovas coloquiais
por um pequeno vestígio da pele amada.