2.5.19

Diurese

Cuidadas as feridas
agora as mãos desocupadas
para a genuína ocupação:
cuidar dos tempos normais. 
As barricadas
já são só um pesadelo
arvorando a sua condição a espaços. 
Às cicatrizes
a função de mnemónica
que aproveita aos tempos vindouros
(se a necedade dos homens
não se sobrepuser
num vangloriar estulto
que mais não é do que uma vã glória).
Os dias correm planos
agora. 
Os sorrisos retomaram um lugar
nos rostos quotidianos
o sinal da temperança que se enquista
no ar que parece mais leve. 
As palavras não saem a custo. 
As pessoas querem multiplicar as palavras.
Aprenderam a irrelevância do amanhã,
que pode soçobrar ao menor contratempo. 
Antes as pautas alinhavadas
pelo solfejo da manhã
o sentir do ar frescamente matinal
e a aurora que é sempre uma quimera,
mas só no dia que lhe corresponde;
as manhãs alinhavadas em promessas vindouras
são o juro que a incerteza não pode pagar. 
Se dúvidas persistirem
que a cartografia das cicatrizes,
possível depois de lambidas as feridas,
trate de apurar.

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